In Cotidiano

#TodosSomosOQue ?


O jeitinho brasileiro sempre me incomodou. Sempre me foi uma pedra no sapato ter que ver aquele coleguinha estacionando o carro na vaga de idoso, por 5 minutinhos. Ou aquela alma que ta vendo um sinal vermelho, mas atravessa porque não vem carro de nenhum lugar. Ué, é pra chegar mais rápido, o demônio diz (me deixa, que hoje eu to amarga).

Pra chegar mais rápido a algum lugar você se faz de morto, pra alguém te levar onde não querias ir sozinho? Já pensou nisso? Em ser empurrado com a barriga alheia?

 Esses dias fiz uma leitura dolorida sobre como os brasileiros (alguns) são vistos em outros países. Não fiquem pensando que são os estrangeiros que vêm aqui nos observar. Longe disso. São os muitos de nós que vão lá se “refugiar” pra “sumir do país que ta uma droga”. Muitos, mas muitos mesmo juntam uma boa grana e vão a Toronto, Lisboa, França, Alemanha ou ali nos Estados Unidos em busca da “qualidade de vida” que aqui não têm. Bravejam que aqui “vagabundo vive de bolsa família e esse governo é uma vergonha”, mas é só morar dois anos em Toronto que a pessoa vai pro Instagram postar que os filhos ganham auxílio. OI?

 Ou seja, pode ter auxílio nos outros países, mas aqui não.

Nos outros países as pessoas quase não têm empregada doméstica (porque custa caríssimo), mas o brasileiro se esquematiza pra morar fora e poder levar a sua empregada. Ou seja, migra com os mesmos costumes daqui. Nos outros países, os brasileiros dizem que aqui vivemos na mediocridade e preferem morar num país que tem igualdade social. Mas é só chegar ao Canadá que eles ficam horrorizados se um pedreiro tem carro ou uma empregada doméstica usa roupa de “marca”. Ah, não pode! Deus te livre ver uma empregada doméstica no Brasil usar um casaco da Gap. Deve ter sido doado pela patroa.

 O que adianta “se livrar” do país onde nasceu se vai lá pro “estrangeiro” levar todo e qualquer costume daqui? Levar essa seletividade absurda. Cara, você vai buscar uma coisa e leva em troca toda a sua ignorância sobre o costume social do lugar onde você quer fincar os pés. 

Você pensa que a gente se livra desses estereótipos fora do país, mas não. É um estigma. É como se fosse um crachá “oh, é brasileiro. É mal educado e não sabe falar ‘bom dia’”. Pronto. Somos batizados. E não vá achando que estou falando de todos. Até porque pelo o que li (bastante), as pessoas que falam sobre o assunto são categóricas: “esses brasileiros são aqueles classe média alta, que viviam muito bem no Brasil e vêm aqui gastar seu rico dinheirinho tentando diminuir o outro que ficou e humilhar a gente”. Bingo! 

Assusta, né?! Corremos quilômetros com uma fama que nos vem de berço. Ou uma fama que nos atribuem, só pra gente já sair de casa escolado. Ou achas que se você não falar, todos os dias, com o seu filho sobre o valor da igualdade entra as pessoas, sobre usar o “por favor”, “com licença”, “bom dia”, “obrigado” ou um simples sorriso caso alguém lhe seja gentil, DENTRO DA SUA CASA, ele vai aprender na escola sobre isso? Você acha, mesmo, que está fazendo o papel social dentro e fora do seu discurso? Quando falo do jeitinho brasileiro, eu penso em todas essas coisas. O jeitinho brasileiro de não cumprimentar o servente do shopping porque se finge que ele é invisível. O jeitinho brasileiro de não dar bom dia quando chega a algum lugar, QUALQUER lugar. O jeitinho brasileiro de não recolher sua bandeja na mesa da praça de alimentação, de não dar o lugar a um idoso, de não ajudar uma mãe que está com uma criança no colo e a outra berrando no chão. O nosso jeitinho brasileiro. 

Não adianta pregar em todas as suas redes sociais que somos iguais, que temos que ter as mesmas oportunidades, que #SomosTodosAlgumaCoisa, mas na hora que isso sai do papel, que sai do banquinho, que sai do seu quartinho gelado você vocifera todo o desgosto que ta nesse ego velho de guerra, escondido embaixo de algum tapete imundo e tu não tinhas oportunidade de mostrar por ai. Mas agora você tem, oh. O poder está na tua mão. O cargo te fez subir. Fez subir a cabeça. Fez todo mundo se colocar no seu devido lugar, porque você é o cara. URRU! 

Até quando as igualdades serão seletivas? Até quando usaremos o “jeitinho brasileiro” como um elogio? Isso eu não sei. Mas o que eu aprendi com a leitura sobre nós, brasileiros (inclusive, mores, leiam “Raízes do Brasil” e/ou “Viva o Povo Brasileiro” pra entenderem mais sobre nós), e sobre essa vergonha, essa dorzinha de incômodo é que eu não vou carregar isso comigo, não. Mas não vou mesmo! Todos os dias eu escolhi mudar pra melhor. É um processo lento, demorado, mas não impossível. Julgo dizer que chega a ser dolorido ser uma pessoa melhor.

O jeitinho brasileiro eu to tentando excluir da minha vida, assim como excluí aquelas pessoas que pregam uma coisa, pensam outra, fazem outra, ofendem de outra forma e detonam tudo que está perto de outro jeito. Eu escolhi um caminho sem volta, e não é perto dessa gente. E viva o povo brasileiro!

Por Naiane Feitoza

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