In Cotidiano

Mariele e Andersos morreram e milhares de diálogos nasceram


Há cinco anos eu ouvi falar de Mariele, e não tive a dimensão e muito menos a percepção da força que ela carregava na voz, na mente e em cada passo que dava. A morte dessa mulher trouxe (ou deveria trazer) a cada uma de nós uma grande reflexão acerca do espaço de fala, que todos nós temos direito de desfrutar.

 Todos nós merecemos respeito pelo simples fato de existirmos! 

A todo o momento estamos modificando o espaço onde estamos, com questionamentos, com insatisfações, com trabalho, com ideias, com a nossa existência. Nosso país tem amedrontado nossos gritos, isso é um fato. Estamos encurralados escrevendo textos com cuidado, para não sermos apedrejados com interpretações caluniosas e pretensiosas. Estamos indo às ruas sem saber se voltaremos. Estamos reféns de nossos semelhantes. O mal se esconde em todo lugar. Camufla-se de cotidiano e atira no silêncio das ruas, de forma premeditada, não só nos assaltos nem na bala perdida. O mal vem com o ódio e covardia, de carro, com arma roubada e atiradores muito bem treinados. O mal vem certeiro e sorrateiro, destruindo famílias de sangue e parindo famílias de luta, pois o sangue dos bons rega a semente da justiça.

Mariele e Anderson se foram, e nunca mais veremos e ouviremos suas vozes. Seus filhos não viverão mais nada ao lado deles. A mulher de Anderson e a mulher de Mariele ainda despejarão muitas lágrimas, até a dor passar (ou, pelo menos, amenizar). Vai doer muito ainda. Vai incomodar muito ainda. Vai haver muita coisa ainda. Tem muito a se viver depois destas mortes (que ironia, não!?). 

A voz de Mariele ainda será ouvida nas ruas, por muitas mulheres que tomaram para si o legado que ela fez questão de nos deixar, enquanto viveu entre nós. Anderson ainda será lembrado em cada trabalhador que sai de casa, com a intensão de voltar no fim do dia. O crime cometido contra eles também será lembrado, até que se resolva e escorra no peito nu de cada indivíduo, que agora reverbera a presença de cada homem e cada mulher que vê nesse país a chance de que tudo melhore.

Mariele e Anderson, presentes. Legado de Mariele e Anderson, um presente.

Mariele se foi, mas sua existência ainda ecoa e ecoará em nós, como um grande aprendizado de que não devemos nos calar, mesmo vivendo a beira do precipício. Quando lutamos pelo todo, o todo luta por nós!

E antes que eu me esqueça, por você e por todos nós, e, principalmente você mulher, em meio as suas preces, não se esquece de indagar: quem matou Mariele? 

Quantas Marieles ainda precisarão morrer para o nosso país despertar? 

Chega!


Por May Sousa 

Arte: Sereia Abacaxi

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