Em primeiro lugar vamos
entender alguns pontos técnicos importantíssimos para entender em que pé está a
PEC 181, que, além de outras coisas, proíbe e torna crime o aborto em quaisquer
casos. Sim, é isso mesmo, se você for estuprada e engravidar: se vira, vai ter
que pedir pensão pro cara te estuprou. Se você tiver grávida de um feto
anencéfalo ou com alguma deformação fatal: se vira, vai ter que ficar 9 meses
cultivando um amontoado de células dentro de você que depois que sair do seu
útero não vai ter vida.
A PEC 181 é um Projeto
de Emenda à Constituição, de 2015 que surgiu com a intenção de estender o tempo
da licença maternidade para mães que tiveram bebês prematuros. Isso é uma boa
ideia, não é mesmo? Mas, foi nesse projeto que os Deputados da Câmara lá em
Brasília fizeram uma manobra para enxertar a criminalização do aborto legal no
texto da PEC 181. O aborto é legal em casos de estupro, de fetos anencéfalos e
de risco de vida à mãe.
Pois é, o que foi
aprovado, mas que ainda vai ser discutido no Plenário da Câmara, foi o texto
todo da PEC, inclusive essa extensão do tempo da licença maternidade em casos
de nascimentos prematuros, mas com o enxerto da criminalização do aborto porque
estabelece, na Constituição, que a vida nasce desde a concepção. E isso quer
dizer que se você tomar a pílula do dia seguinte você vai estar cometendo
assassinato! Pior ainda: infanticídio!!!
Então vamos esclarecer
algumas coisas aqui!
As pessoas têm que
parar de endeusar o instituto da maternidade e o da infância. Tem gente que não
leva nenhum jeito pra ser mãe. Tem gente que não gosta da personalidade do
filho. Tem filho que não aceita a personalidade dos pais. Tem criança que é
chata mesmo. E tem gente que não gosta de criança!
É tem gente que não
gosta de criança e ainda assim não é adoradora do demônio.
Mas parece que existe uma
autocracia da maternidade: se você é mãe tem que ser um exemplo de moral e bons
costumes e isso quer dizer que você não tem mais direito de transar com
qualquer outro homem que não seja o pai dos seus filhos, mesmo que esteja
separada dele (e nem pense em ir para o lado negro da força e transar com uma
mulher!); você tem a obrigação de idolatrar seu filho acima de todas as
coisas, ao lado de Deus, é claro, porque você não pode ser qualquer outra coisa
que não seja cristã; e o mais importante é que você tem que abrir mão da sua
vida pra cuidar do seu filho.
Aliás, você nem deve
dizer que a criança entrou na sua barriga porque você fez sexo com alguém com
um pênis (shhh! Fale baixo!) diga que foi a cegonha, ou o boto! Assim ninguém
vai imaginar você transando com o cara.
E nunca, nunca, nem que
custe sua vida, nunca diga que você engravidou, mas não quer o filho e, se
pudesse, a lei permitisse e você tivesse dinheiro para bancar uma clínica, você
abortaria. Aí sim, você vai ser considerada uma sacerdotisa de satã que
sacrifica fetos como oferenda ao diabo.
Então, ser uma mãe ruim
porque você nunca quis ser mãe, criar uma criança por quem você não tem afeto,
oriunda de um pinto que você não desejou, é sua obrigação porque você nasceu
com uma vagina e um útero?
Não né, gente?!
Vamos ser mais coerentes?!
Então vamos.
Por Maria Beira Rio
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