In Cotidiano

É caro ser ignorante



Quantas pessoas você perdeu, porque seu pensamento não muda e sua vida está perfeita, na ignorância que se encontra? 

Quantos momentos de paz você deixou que sumissem, quando sua cabeça fervilhou por uma informação que não cabia no seu mundinho enfeitado de perfeição?

Eu custo a acreditar que ditamos regras pra vida alheia, pra verdade que não nos cabe. Custo a crer que somos tão pequenos e rasos, ao ponto de subtrair o conforto do outro, pra tacar a nossa verdade incontestável e cheia de pontinhos finais. Qual a verdade do outro que lhe interessa tanto, pra você sair do seu mundo e ir lá vomitar o que é certo?

Sempre pergunto, repetidamente, as mesmas coisas, pra ver se aprendemos o que está ali, na nossa cara, apitando, esculachando, BERRANDO, pra gente se tocar que a vida é fácil demais, a paz é honrosa demais, a coragem é valiosa demais pra gente se importar com... o problema do outro. 


Certo dia, bati boca (desnecessário, claro) com uma moça que afirmou, com unhas e dentes, que mulher precisa de homem, SIM. Que precisa, porque ela precisa. Ok. Ela precisa. E eu quis convencê-la que estava certa e ela erradíssima. Veja a minha ignorância, coitada. A minha petulância de interferir no mundo de alguém que nem fazia parte dos meus dias. 

O feminismo está na nossa frente, no nosso sangue, mas confundimos com ordem, com intrometimento, com “faça o que eu faço”. Eu esqueci completamente que se tratava do outro e meti o dedo, dei pitaco, ofendi. Ofendi! Que vergonha. Vergonha de ter feito o que tanto fizeram a mim. Se meteram demais, que até derramou o que tava dentro. Transbordou! 

A nossa cegueira diária faz a gente enxergar um umbigo bem saliente a nossa frente. A gente não se conforma com a decisão do outro. A gente não respeita que cada indivíduo tenha a sua individualidade. O mundo ta ocupado demais rolando, virando, se transformando, mas ainda existe uma boa parte de seres humanos martelando a mesma questão, os mesmos problemas, se gabando por ter certeza de um propósito da vida. CERTEZA! Quais as certezas que você tem dessa vida? Você irá acordar amanhã? Você vai, mesmo, vestir SEMPRE 38? Seus cabelos serão sempre assim? Todos os dias você acorda as 6:37? 

Desagarra dessa crença desnecessária que a sua verdade é absoluta. Desapega do “eu acho”, que de achismo o banco de respostas exatas ta lotado. Se salva, enquanto é tempo, desse emaranhado de “eu quero, eu posso, eu determino” a verdade que não lhe cabe, que não lhe foi cedida, que não é da sua conta. Não é da sua conta se o outro gosta de rock e acha que Raul Seixas fez pacto com o diabo. Não é da sua conta uma mulher não querer ter filhos e estar bem com isso. Não é da sua conta se a Maria come o João, a Francisca e a Jéssyca Pietra. Não é e nunca foi da sua conta se o outro lhe parece ignorante, num assunto que você nem conhece e nem ta querendo conhecer. 

Pega a tua arrogância (porque é esse o nome que a gente dá pra esse bichinho), coloca embaixo da cama, dorme e acorda sem ela. Leia, se solidarize, encaminhe compreensão pelos seus e-mails e comentários sórdidos nas redes sociais. Se cala no grupo do whatsapp. Se coloca no lugar de quem é atacado sem atacar. Eu te juro que ignorância ta matando, e a paulada. As pauladas que a vida dá. E eu acho bem feito. Custa caro a sua ignorância. E custa caríssimo pagar por algo que você mesmo cometeu. Quer pagar?

Por Naiane Feitoza 

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