In Cotidiano Jornalismo

A era é da internet mas o julgamento é medieval


Quantas vezes você, eu, nós apontamos, julgamos e depois analisamos um fato e vimos que não era bem assim? Mas muitas vezes só nos damos conta das consequências quando a verdade vem à tona e aconteceu a catástrofe. 

A internet é incrível, um mundo novo e isso, nós sabemos. Sabemos também que ganhamos um poder de fala, escrita e pensamento sem fim. Nossos monstros internos, aquela atitude automática de julgar uma situação toma conta de nós e se não ficarmos atentos, nos deixamos levar pelo que está ali, escrito. Primeiro alerta de consciencia. 

Conversamos semana passada sobre o fato de o facebook ter mudado o algorítimo por causa das fake news ou notícias falsas. E depois do que presenciei na internet macapaense nos últimos dias pude ver o quanto uma fake news pode abalar uma reputação, uma carreira, uma vida, um ser humano! Nao é à toa a preocupação do criador do facebook, além dos seus cifrões a mais, claro. Prefiro notícias mas desta vez, concordo em diminuir o fluxo. 

Qual o seu objetivo com a internet? O poder dela é muito grande. Aliás, você ainda pensa daquele jeitinho inocente "se está na internet é verdade?". Está checando se o veículo que propagou a informação é de confiança? Se o site ou página tem seriedade em veicular notícias? Tudo isso é muito importante antes de disseminar um link, compartilhar, enviar em grupo. Se você tem feito isso aleatóriamente, você está contribuindo para a desinformação! 

Sei que a empatia tem sido mais difícil de ser praticada mas se colocar no lugar do outro é um passo adiante no que podemos fazer de melhor no meio desse turbilhão confuso e desrespeitoso. 
Arte: Pawel Kuczynski

Uma vez compartilhei uma fake news e gentilmente um conhecido me informou do fato. Senti uma vergonha sem tamanho por ter sido descuidada com o que estava compartilhando com colegas, amigos, familiares e poderia ter contribuido para que a tal informação tomasse proporções que nem quis pensar. Tirei do ar rapidamente, agradeci, me desculpei, me senti um tanto burra e irresponsável. Afinal, sou jornalista, é meu dever ter cautela com o que escrevo e propago. Porém, sei que vou errar, me equivocar, não vou me penitenciar por isso, só tentarei ao máximo não cair nas armadilhas do imediatismo  para não denegrir ou ferir ninguém. É um alívio saber que não se é perfeito e qualquer um pode errar. Postar uma data de evento errada, um nome errado de algum endereço, são erros honestos, não se comparam a acusações sérias e que foram publicadas sem um mínimo de cuidado, ética e profissionalismo. 

A grande questão é, quando se propaga uma notícia sem fatos concretos ou distorcidos, você já parou pra pensar fora da timeline? E naquela pessoa que é o "judas" da vez, o acusado, o "cortem-lhe a cabeça!" em praça on line? Você já parou para pensar nela? Ela também tem familiares, amigos, uma vida e você contribuiu com um click, um compartilhamento, para que ela fosse rechaçada na internet. 


Opinar também está difícil. Se você não tem um padrão do que esperam de você para falar de determinado assunto, é fácil te desqualificarem, deduzirem quem você é, x ou y e tirarem seu direito de se posicionar. Calma, se posicionar não pode ser usado como desculpa para jogar preconceito e extremismos no nosso feed. Bom senso, por favor. 

Nem tudo é preciso opinar na internet. Nem tudo que se compartilha é verdade. Reclamamos que nossa justiça é falha e será que colocamos toda nossa frustração na internet? Criamos uma corte on line e decepamos cabeças com guilhotinas de likes e listas de trasmissão ? Ou enforcamos pessoas por achar que são culpadas e por isso, merecem ser banidas de qualquer grupo de whatsapp? Percebem o que temos feito? Com essa percepção, torço mesmo é que essa onda extrema passe e comecemos a agir de acordo com nossa era, nossos tempos, afinal, a era medieval ficou para trás. Não, péra! 

Arte: Makkah Newspaper



Por Camila K. Ferreira 

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