Conversei no final de semana com a artista, formada em design: Ana Gato, de 24 anos, Belém do Pará, que já chama atenção pelo estilo, mas logo que você conhece o trabalho que ela desenvolve na pintura, sente que esta macapaense de coração tem talento para voar mais alto. Ela recentemente participou do projeto "Logo Gallery da Dumond para representar o Norte, para desenhar e pintar o logo e a customizar os calçados dos convidados durante o evento. Foram seis artistas participantes, de cada região do Brasil. Orgulho!
Já conhecia o trabalho da Ana e além de talentosa, criativa, ela tem muita personalidade e sabe o que quer. Dá uma conferida na entrevista e no ensaio fotográfico especial para o blog!
Q: Conte um pouco do inicio da sua trajetória no meio artístico, neste caso, a pintura
A: Eu comecei a desenhar na escola, atrás dos meus cadernos e fazia isso o tempo todo. Eu já sabia que queria trabalhar com arte pro resto da vida, mas não sabia exatamente como. A minha mãe sempre foi grande incentivadora e um pouco depois de eu entrar na faculdade de Design, ela me presenteou com um estojo de lápis de cor aquareláveis que tinham sido dela quando ela estava na faculdade de arquitetura. Rapidamente eu passei de desenhos em preto e branco para desenhos coloridos e o que mais me impressionou foi a diferença enorme, as cores se destacavam e me causavam um sentimento de "dever cumprido" que eu nunca tinha experimentado só com os desenhos preto e branco. Depois disso eu comecei a testar uma infinidade de materiais, desde aquarela, pastel, tintas, carvão, qualquer coisa onde eu pudesse descobrir novos resultados. Passei até por uma fase de mini-esculturas em polymer clay - que parei de fazer quando comecei a trabalhar com design e tive cada vez menos tempo.
A pintura veio por acaso. Eu nunca tinha tentado nada em tela porque achava que precisaria estudar muito mais antes, até que veio o convite de um empresário local - que acompanhava os meus desenhos pelas redes sociais. Ele perguntou se eu gostaria de expor uns quadros na sorveteria dele e eu topei de imediato. Marcamos a data e eu comecei a pintar as 12 telas que compuseram a exposição Miarte, que aconteceu de Dezembro de 2016.
A experiencia de pintar as telas, mesmo sendo completamente diferente de pintar em papel, era como estar em casa. Quase que natural e super confortável. Hoje, consigo me sentir dessa forma quando estou pintando na maioria das superfícies.
Foto: Camila K. Ferreira |
Q: Você já tem um trabalho reconhecido no mercado amapaense. Como foi o processo para conseguir um espaço neste área tão disputada?
A: *rindo de nervoso* É muito estranho pensar em mim mesma dessa forma, mas eu acredito que o reconhecimento vem do trabalho e persistência. Eu comecei a trabalhar com design logo que entrei na faculdade, o que era incrível já que eu estava aprendendo na prática muitas coisas que eu via na universidade mas me deixava com pouquíssimo tempo pra me dedicar às pinturas.
O curso de design não é focado na arte, e sim na concepção e desenvolvimento de projetos. A arte é um fator secundário. Resumindo, mesmo trabalhando dois horários e fazendo faculdade a noite, eu arrumava um tempo de desenhar qualquer coisa que fosse simplesmente porque eu precisava desenhar. Não era a rotina dos sonhos e muitas vezes eu falhava, mas foi o caminho que eu segui que me trouxe até aqui. Comecei desenhando artistas que me inspiravam, personagens de filmes e alguns desconhecidos, sempre compartilhando no facebook e instagram, e naturalmente eu passei a receber encomendas.
Foto: Camila K. Ferreira |
Q: Quem é a Ana Gato por meio dos seus trabalhos?
A: Acho que dá pra perceber bastante da minha personalidade nos meus desenhos, principalmente através da expressão e das poses retratadas. Eu sempre busco pela essência da pessoa e não apenas a estética.
Q: Qual o foco do seu trabalho? E como você enxerga o presente/futuro dele?
A: Na verdade eu nunca parei pra pensar muito sobre isso, porque, como sempre foi natural pra mim, eu só esperava a oportunidade de poder viver desenhando, trabalhar com isso. Agora que estou tendo a oportunidade, o meu objetivo é me qualificar, fazer cursos e aprender o máximo que eu puder pra no futuro poder retribuir de alguma forma ajudando no incentivo e desenvolvimento de outros artistas.
Foto: Camila K. Ferreira |
Q: Quem ou o que lhe inspira?
A: Geralmente são pessoas, na grande maioria, mulheres.
Q: E sua avaliação sobre o mercado de trabalho para esta área? O que você pensa que é decisivo e faz a diferença?
A: A minha avaliação sempre vai ser bastante pessoal e amadora porque foi assim que tudo aconteceu pra mim. Eu comecei a trabalhar com ilustração porque as pessoas tinham contato com o meu trabalho e encomendavam. O melhor conselho que eu posso dar pra quem quer seguir esse caminho é sempre praticar, mesmo que não tenha tempo na sua rotina, dê um jeito de incluir um tempo pra praticar. E assim você vai mostrando o seu avanço, compartilhando o seu trabalho. Quando você faz o que gosta e se esforça pra dar certo, o reconhecimento vem naturalmente.
Q: Recentemente você esteve em São Paulo participando do projeto Logo Gallery de uma loja de renome nacional, como foi essa experiência ?
A: Foi surreal. Eu desenho há bastante tempo, certo, mas nunca tinha parado tudo pra me dedicar exclusivamente à ilustração. Eu estava ha alguns anos trabalhando em agencias de publicidade como Designer, o que não me dava tempo pra praticar e me deixava sempre esgotada. Os desenhos que eu fazia eram sempre após o expediente, fins de semana ou no horário de almoço. Um dia eu abri o twitter e vi meus amigos me marcando em um post de uma menina que buscava Ilustradoras do norte do Brasil, assim enviei alguns desenhos também. No outro dia, a supervisora de marketing dessa loja estava em contato comigo através do Facebook e por email acertando os detalhes. Pedi demissão do emprego uns dias depois e estou me dedicando apenas a ilustração.
A proposta já era fantástica porque primeiramente eu estava saindo do lugar onde eu moro, da região onde eu atuo profissionalmente pra participar de um projeto nacional em São Paulo, a terra das oportunidades. Imagine o coração da menina paraense que mesmo sem nenhum curso de pintura foi convidada pra representar o Norte, um lugar riquíssimo em artistas. Além disso, eu estive em contato com 5 ilustradoras, uma de cada região do país, trocando experiências e conhecendo o trabalho incrível de cada uma. E a melhor parte: eu estou sendo paga pra participar disso tudo. No evento de São Paulo, expus o logo 3d da marca, pintado por mim, e customizei calçados de clientes, além de customizar um par que está participando de um leilão beneficente. A próxima etapa do projeto é em Manaus no fim desse mês, onde haverá outro evento com a exposição do logo e customização de produtos.
Foto: Camila K. Ferreira |
Q: A pintura tem se tornado cada vez mais recorrente nos trabalhos com moda, comunicação e até mesmo publicidade, o que você pensa disso?
A: Eu acho que a arte sempre esteve presente nessas áreas, e a recorrência atual indica que mais gente está produzindo arte e mais gente está consumindo, o que é incrível porque além de mais pessoas compartilhando os conhecimentos, mais os artistas se sentem motivados a ir além. Me anima!
Q: Os artistas que trabalham com pintura vencem barreiras de tempos em tempos, qual meta que você almeja alcançar neste âmbito?
A: No momento busco apenas a qualificação que eu falei através de estudo e continuar seguindo em frente com a sensação de que estou fazendo um bom trabalho. Eu sou muito agitada, sempre invento alguma coisa. Vocês ainda vão me ver bastante por aí!
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