In Cotidiano Música

Ouço música, não uso uniforme.


Lembro a primeira vez que me apaixonei pelo rock’n’roll. Estes momentos são inesquecíveis mesmo. Até o momento só conhecia as músicas da Madonna, Michael Jackson, Lionel Richie, e "brazuca" era Chico Buarque, Caetano Veloso, Alceu Valença e Fafá de Belém. Na fase adolescente, Backstreet Boys e Spice Girls, mas no caso das Spice não era tão fã assim. A MTV era novidade também, e não pegava muito bem na tv de minha casa, era tudo granulado e preto e branco, porém, dava para ouvir as músicas e com isso, para mim, estava tudo bem. 



Foi no canal que assisti a apresentação do Backstreet Boys pela primeira vez, era a música "Everybody". Achei incrível! Dança, música, performance e tudo mais. Na época, já estudava música clássica (piano) e fui descobrindo pouco a pouco que existiam muito ritmos que eu não fazia ideia. Comecei a sentir uma angustia. Me faltava algo. As músicas que conhecia até aquele momento não diziam mais nada sobre o que eu estava sentindo. Saí da aula pensativa, afinal, estava estudando música clássica, porém, não estava sentindo o mesmo prazer que tinha inicialmente. 


Tava tudo muito calmo e eu estava em fúria. A adolescência causa isso, né não? Como alguém pode esquecer tais sensações? Cheguei em casa e lá vai eu tentar colocar o bombril na antena para que sintonizasse a MTV. "Por favor! Pega MTV", era meu mantra. Ufa, consegui ouvi os sons e a imagem continuava p&b com muito granulado, mas tudo bem. Naquele dia anunciaram: Ouçam agora, “Smells like teen spirit”, do Nirvana!


Quando ouvi aquele riff inicial foi como se acontecessem várias explosões emocionais no meu corpo. Aquela voz rasgada, as lideres de torcida tatuadas, os caras pirando no som e quebrando tudo. Que clipe é esse?! Que música é essa? Que som é esse?? 




Fiquei aflita! Era aquilo que eu queria ouvir há muito tempo! Cheguei no Conservatório em êxtase! Perguntei logo para uma amiga se ela já tinha ouvido falar numa banda chamada Nirvana.

 -Claro! Sou fã, tenho alguns sons gravados, posso trazer para ti.

 - Por favor! Tens as letras das músicas traduzidas? 

- Tenho algumas na minha agenda, e uns posters, vou trazer. 

E não é que era mesmo o cheiro do espirito adolescente?!

Que alegria era a minha naquele dia. Consegui o Nevermind emprestado e ouvia todo santo dia no volume máximo. Dançava no quarto, queria ser líder de torcida tatuada. E foi ali que tudo na minha visão de mim mesma fez sentido. Sempre digo que o rock’n’roll me salvou (de muitas maneiras). Já não me sentia tão anormal por não curtir de fato ouvir pagode, axé e o que tava tocando na rádio, ou por não apreciar determinadas festas, roupas e etc.


Quando você não encontra "de cara" com pessoas que tenham similaridades com você na adolescência, tudo pode parecer meio solitário. Foi um bom tempo que passei dentro do meu quarto, no meu mundo, ouvindo e lendo sobre rock’n’roll e suas curiosidades. Logo depois que conheci todas as bandas de grunge possíveis, ouvi as bandas Pantera e Sepultura (minhas favoritas até hoje) e entendi mais sobre o metal extremo. Era mais um estilo de música que estava entre os meus favoritos, sem esquecer o pop, com muito amor. Penso que também é normal se envolver com o visual que acompanha tais vertentes musicais. Amo roupa preta, coturno, botas, meia arrastão, blusa de bandas (que ouço) e minha concepção sobre moda mudou bastante.


Percebi que usar certas coisas não faziam mais sentido para mim. Não precisava mostrar com minhas roupas o som que eu ouvia. Claro, dá um orgulho conseguir aquela blusa rara da banda que a gente ouve, mas sinceramente, é só um agrado à nós mesmos. Ter visual é divertido. Ser fiel ao que você é e sente, vale mais que diversão. 



Por isso, ouço a música, não uso uniforme.

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