Dia desses, conversando com umas amigas, decidimos viajar
pra “jogar a vida fora”. Era um planejamento pra uma dessas viagens de amigas,
regadas a muita gargalhada, foto de praia, cerveja, sol, calor, axé. Enfim,
tudo que estávamos precisando.
Conversei com o namorado (moramos juntos, temos uma filha, mas
somos namorados, ué!) e ele, prontamente: “te organiza e vai, amor”. E não, não
era um pedido. Era um aviso: “amoooor, vou viajar com as meninas e vou levar
nossa brotinha”. Ponto final.
Sou uma mulher que gosta de tomar sua cerveja em paz, de
tirar um dia no mês pra beber com as amigas, dar uma volta e me organizar pra
viajar, nem que seja sozinha. Ter um relacionamento “firme” nunca foi um
problema pra se ter uma vida normal. Lembro que houve um ano que fui para o
Carnaval de Salvador, passei 10 dias de muita farra e gargalhadas. Em meio a viagem, chegou o tal do
“valentine's day” (14 de fevereiro), e postei algo bem romântico no instagram, pra representar o meu amor
por nós: uma foto nossa, com beijinho, cheirinho e textinho. Own.
Own? Own nada! Houve muito tiro, porrada e bomba.
Minha e dele? Não. Das pessoas dando seus comentários
gloriosos.
Gente, PRA QUÊ?
Os comentários foram: “nossa! Você viajou sem ele? Corajoso
ELE” ou “Uau! Eu não tinha essa coragem” ou pior “ele deixou você ir?”. Sentei,
respirei e contei até mil, pra não mandar cada um tomar no seu lindo orifício
anal rugoso da parte lombar inferior (aqui eu não posso falar palavrão).
Respondi, carinhosamente, que eu estava numa relação madura (cof, cof!) e que
não tínhamos esses problemas. E quem era corajosa era EU, não ele.
As pessoas se incomodam muito com a relação dos outros. Não
sei o que é, mas deve ter um mosquitinho dentro do ouvido do indivíduo dizendo
“vai lá, pergunta por que ele ta no barzinho sem a namorada e fala que é feio”.
É muita pretensão achar que somos ligados ao namoro/ casamento, como se fosse
uma prisão e precisamos sempre estar por aí mostrando, de mãos dadas e
agarrados, que estamos juntos, que ele não sai sem mim e nem eu sem ele. É o
padrão tabajara tucuju brasileiro de namoro.
Que eu lembre, não sou gêmea siamesa do meu namorado. Não
preciso estar pendurada no ombro dele, como papagaio de pirata, toda vez que
ele for jogar bola, for passar num bar para beber com os amigos ou for fazer
teste de HIV.
Também não temos mais descrição de relacionamento nas redes
sociais “fulana está num relacionamento sério com sicrano”. Não precisamos mais
desse rótulo para os outros ficarem olhando. Os padrões de relacionamentos
(oi?) não foram atualizado com sucesso, no nosso cotidiano. Foi um caminho
árduo até aqui, porque custa muito a gente se desprender do que fomos criados:
a manipular e sermos donos da vida do outro.
Hoje sou mais feliz e
segura, do que quando estava vigiando quem vai achar ruim eu sair sem
namorado. Saímos sozinhos, saímos juntos, saímos com nossa filha, viajamos
sozinhos, viajamos juntos, dormimos agarrados, dormimos cada um pro seu lado e
vivemos muito bem assim.
A mania de cuidar da vida do outro deixou as pessoas muito
mais preocupadas se o João está bem, se a Claudia não apagou as fotos do
namorado, se a Catarina está bebendo por ai solteira, se aquele namorado safado
fez declaração de amor pra Maria e quantas curtidas a chifruda levou.
ENTENDERAM? É uma vigilância imoral, sem limite, só pra saber se você está com
alguém e pra saber se sua vida está nos padrões.
Namoro e casamento não são prisões. Pelo contrário. É
liberdade pra ser o que realmente é. É mostrar o seu melhor e o pior e, mesmo
assim, ficar. Não se permita responder questionamentos de quem não contribui
com a sua felicidade, quem não acrescenta sonhos. Como diz um forrozinho
gostoso, que sempre gosto de escutar “o que é pra dois, não é pra três”.
Por Naiane Feitoza
0 comentários:
Postar um comentário