Saturday, April 12 2025

In Cotidiano Relacionamento

O que é pra dois, não é pra três

Dia desses, conversando com umas amigas, decidimos viajar pra “jogar a vida fora”. Era um planejamento pra uma dessas viagens de amigas, regadas a muita gargalhada, foto de praia, cerveja, sol, calor, axé. Enfim, tudo que estávamos precisando.

Conversei com o namorado (moramos juntos, temos uma filha, mas somos namorados, ué!) e ele, prontamente: “te organiza e vai, amor”. E não, não era um pedido. Era um aviso: “amoooor, vou viajar com as meninas e vou levar nossa brotinha”. Ponto final.

Sou uma mulher que gosta de tomar sua cerveja em paz, de tirar um dia no mês pra beber com as amigas, dar uma volta e me organizar pra viajar, nem que seja sozinha. Ter um relacionamento “firme” nunca foi um problema pra se ter uma vida normal. Lembro que houve um ano que fui para o Carnaval de Salvador, passei 10 dias de muita farra e gargalhadas.  Em meio a viagem, chegou o tal do “valentine's day” (14 de fevereiro), e postei algo bem romântico no instagram, pra representar o meu amor por nós: uma foto nossa, com beijinho, cheirinho e textinho. Own.

Own? Own nada! Houve muito tiro, porrada e bomba.

Minha e dele? Não. Das pessoas dando seus comentários gloriosos.

Gente, PRA QUÊ?

Os comentários foram: “nossa! Você viajou sem ele? Corajoso ELE” ou “Uau! Eu não tinha essa coragem” ou pior “ele deixou você ir?”. Sentei, respirei e contei até mil, pra não mandar cada um tomar no seu lindo orifício anal rugoso da parte lombar inferior (aqui eu não posso falar palavrão). Respondi, carinhosamente, que eu estava numa relação madura (cof, cof!) e que não tínhamos esses problemas. E quem era corajosa era EU, não ele.

As pessoas se incomodam muito com a relação dos outros. Não sei o que é, mas deve ter um mosquitinho dentro do ouvido do indivíduo dizendo “vai lá, pergunta por que ele ta no barzinho sem a namorada e fala que é feio”. É muita pretensão achar que somos ligados ao namoro/ casamento, como se fosse uma prisão e precisamos sempre estar por aí mostrando, de mãos dadas e agarrados, que estamos juntos, que ele não sai sem mim e nem eu sem ele. É o padrão tabajara tucuju brasileiro de namoro.

Que eu lembre, não sou gêmea siamesa do meu namorado. Não preciso estar pendurada no ombro dele, como papagaio de pirata, toda vez que ele for jogar bola, for passar num bar para beber com os amigos ou for fazer teste de HIV.

Também não temos mais descrição de relacionamento nas redes sociais “fulana está num relacionamento sério com sicrano”. Não precisamos mais desse rótulo para os outros ficarem olhando. Os padrões de relacionamentos (oi?) não foram atualizado com sucesso, no nosso cotidiano. Foi um caminho árduo até aqui, porque custa muito a gente se desprender do que fomos criados: a manipular e sermos donos da vida do outro.

Hoje  sou mais feliz e segura, do que quando estava vigiando quem vai achar ruim eu sair sem namorado. Saímos sozinhos, saímos juntos, saímos com nossa filha, viajamos sozinhos, viajamos juntos, dormimos agarrados, dormimos cada um pro seu lado e vivemos muito bem assim.

A mania de cuidar da vida do outro deixou as pessoas muito mais preocupadas se o João está bem, se a Claudia não apagou as fotos do namorado, se a Catarina está bebendo por ai solteira, se aquele namorado safado fez declaração de amor pra Maria e quantas curtidas a chifruda levou. ENTENDERAM? É uma vigilância imoral, sem limite, só pra saber se você está com alguém e pra saber se sua vida está nos padrões.

Namoro e casamento não são prisões. Pelo contrário. É liberdade pra ser o que realmente é. É mostrar o seu melhor e o pior e, mesmo assim, ficar. Não se permita responder questionamentos de quem não contribui com a sua felicidade, quem não acrescenta sonhos. Como diz um forrozinho gostoso, que sempre gosto de escutar “o que é pra dois, não é pra três”.

Por Naiane Feitoza 

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