Eu escrevo muito sobre
feminismo. E escrevo porque falo e estou sempre refletindo sobre as situações
da vida que a gente passa e que outras mulheres passam. É assim que acontece,
depois que a gente desperta a mente, os ouvidos, os olhos, os sentidos, é que a
gente descobre que devia ter reagido a muitas situações que passamos e vimos
passar e que nem tudo é brincadeirinha e nem sempre é sem querer.
Mas, depois que eu
escrevi aquele último texto aqui no blog, sobre o discurso da Oprah no Globo de
Ouro e sobre aqueles comentários e as piadinhas sexistas que a gente sempre
ouve, eu fiquei pensando se eu tinha exagerado. Porque, quem nunca riu de uma
piadinha de pocharia? Quem nunca ouviu um “ê
lá em casa” e até curtiu? Aí me perguntei: mas um “ê lá em casa” é assédio ou é uma cantada? Uma cantada de mal gosto
e chula pode se transformar num assédio?
Aí, mais uma vez,
depois de refletir um pouco, a ficha caiu e minhas dúvidas foram sanadas. Então
vamos lá, vamos esclarecer esses pontos.
Direto e reto: a
diferença entre assédio e cantada está no CONSENTIMENTO. Se você está numa
festa de carnaval, por exemplo, e um cara chega em você pedindo um beijo, com
uma cantada bem escrota do tipo “ei
gostosa, vamo dar uns pega?” e você diz “ah, num tô fazendo nada, bora lá”, isso não é assédio! É uma cantada,
é só uma paquera, porque teve o seu consentimento.
Agora, se o cara chega
com a mesma cantada e você diz “não
amigo, muito obrigada”, e o cara insiste com um “ah coé? Eu vi você beijando vários caras já, vamo dar uns amasso...”
e você insiste que não quer, aí o cara insiste que quer e te xinga ou te puxa à
força, aí sim é assédio. Aqui não houve o seu consentimento, você demonstrou a
sua recusa, disse claramente que não. Entendeu?
Tudo depende do bom
senso de cada um e do limite de tolerância que cada um tem. Mas fato é: se
alguém te abordar de qualquer forma, desde que não haja violência física, e
você demonstrar não gostar da abordagem, deixar claro que não quer, e a pessoa
te deixar em paz, não há assédio, nem abuso. Talvez uma ofensa a sua honra, ou
a sua moral, ou aos seus princípios, mas aí já é outra história.
Fato é que, se a pessoa
respeitou o seu “não” e parou de
fazer o que quer que seja que estivesse fazendo, não estará configurado o
assédio.
Mas isso não quer dizer
que você precise aturar aquele coleguinha que toda vez que te encontra te
abraça como se estivesse se esfregando em você, nem que você precise escutar
calada aquela piadinha sexista que te ofende. Nesse caso, deixe claro que você
não concorda com aquela abordagem ou com aquele comentário. E não tem que ter
medo de falar. Tenha certeza, sempre vai ter alguém falando que você está
exagerando. Deixa falar e seja firme.
A figura feminina foi legalmente
e culturalmente tão oprimida e por tanto tempo que é meio difícil mesmo quebrar
esse paradigma agora. Mas as paqueras e as cantadas saudáveis são muito bem
vindas sim, desde que sejam consentidas.
Vovó já dizia “o que um num quer, dois não fazem”. E se um fizer e o outro não quiser, assédio é.
Por Mariana Distéfano Ribeiro
Um dos poucos textos lúcidos que li sobre o assunto.
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