Sabe que esses dias eu
me dei conta de que a luta pela igualdade entre homens e mulheres hoje em dia é
muito mais difícil que a luta travada antigamente, quando mulher não podia
votar, não podia usar calça, não tinha direito a dispor de sua herança, não podia
estudar (até hoje há lugares em que é proibido), era um ser que servia apenas
para procriação (a criminalização do aborto pela Câmara dos Deputados não é
mera coincidência).
Estranha essa
afirmação, né? A luta feminista dos dias de hoje ser mais difícil que a luta de
antigamente parece até falácia, mas vem comigo nesse raciocínio que eu te
mostro o porquê.
Quando se tinha uma
linha divisória bem definida entre a existência de um direito ao homem e a
impossibilidade do exercício desse direito a uma mulher, ficava muito clara a
injustiça. Vejamos o direito ao voto, por exemplo, um dos maiores marcos civis
da vitória das mulheres por direitos iguais. A barreira era formal (perante a
lei) e material (porque o próprio direito da mulher não existia).
Perguntamos: qual
explicação jurídica, ontológica, antropológica ou até biológica que justifique
o impedimento de uma mulher ao voto? Nenhuma né?! Ou o fato de ter uma vagina
entre as pernas é uma justificativa pra você?
Outro exemplo é o
direito de frequentar escolas e universidades. Até hoje existem regiões do
mundo em que meninas não podem frequentar escolas e nem as mulheres podem
frequentar universidades. A história da paquistanesa, ganhadora do prêmio Nobel
da paz, Malala Yousafzai é um exemplo de ativismo
pelos direitos humanos das mulheres
e do acesso à educação no Paquistão.
Mais uma vez
perguntamos: qual explicação jurídica, ontológica, antropológica ou até
biológica que justifique o impedimento do acesso de uma mulher à educação, às
escolas e universidades? Nenhuma né?! Ou o fato de ter uma vagina entre as
pernas é uma justificativa pra você?
Mas hoje em dia, pelo
menos juridicamente e civilmente, formal e materialmente (perante a lei e o
direito), nas regiões do mundo em que impera o regime democrático de governo,
existe a paridade de direitos entre homens e mulheres.
Então a barreira que
tem que ser vencida aqui e agora é a barreira moral, filosófica, cultural, dos
costumes. E isso é muito mais difícil de derrubar. É o preconceito velado,
oculto, latente que a gente, que é mulher, vivencia todos os dias.
Percebeu que a barreira
que limita o direito da mulher hoje em dia é cultural? Quando um homem se
relaciona com várias mulheres solteiras ou casadas, sendo ele mesmo solteiro ou
casado, o que as pessoas vão pensar dele? Que é um bon vivant, um dom juan, o pegador, no máximo vão falar que não
vale nada. Mas ainda assim, ninguém vai desprezar um homem por pegar geral e não
valer nada. Vão dar um tapinha nas costas, isso sim, e dizer: esse é meu
garoto!
Agora considere uma
mulher que se relaciona com vários homens solteiros ou casados, sendo ela mesma
solteira ou casada, o que as pessoas vão pensar dela? Que é uma vadia, que é
vagabunda, que não vale nada, que não serve para ser mãe e se for mãe é um mau
exemplo para os filhos. E por aí vai, a lista de adjetivos pejorativos é longa.
E com certeza vai ser desprezada por pegar geral e não valer nada. Vão dar um
tapa na cara, isso sim, e dizer: sua puta!
Esse é só um exemplo de
como a moral e bons costumes são relativizados dependendo de quem se trata, mas
isso tem consequências indiretamente relacionadas à violência contra a mulher e
a figura homossexual feminina.
Entre 1980 e 2013,
106.093 pessoas morreram apenas pela condição de serem mulheres¹. É uma média
de quase 1 mulher por dia a cada ano! Sem falar nos casos que não entram nas
estatísticas por não serem considerados violência à mulher por sua condição.
Quanto aos homens? Esses não sofrem violência apenas pela condição de serem
homens.
Percebeu agora? É
matemático, é estatístico. E ainda tem gente que acha que feminismo é mimimi,
que é vitimismo. A igualdade formal e a material existem. A igualdade fato
ainda é utopia.
¹http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-08/taxa-de-feminicidios-no-brasil-e-quinta-maior-do-mundo
Por Mariana Ribeiro
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