Entre tantas coisas que entram no automático existe uma em especial que me chama a atenção: o ato de presentear. Vivemos em um tempo que aquilo que é concreto e o que vale cifra tomou o lugar do simples e do cotidiano. Cafés na cama, bilhetinhos e cartas tornaram-se extraordinários.
As trivialidades foram se perdendo, a grandeza das coisas pequenas viraram motivos para grandes textos, posts virtuais, colunas de jornal. A beleza de um bom dia, seja presencial ou por mensagem, se tornou uma das práticas mais desejadas do século, como se a virtualidade dos tempos fosse cada vez mais tirando a vontade de calor corporal.
Abrir os olhos para o simples é o ato mais altruísta que existe, isso dá oportunidade para que o outro recupere a essência translúcida de ser natural, de fazer das coisas cotidianas as mais marcantes sem permitir que aquilo que se escolhe na loja seja o norte para qualquer elo que possa existir entre pessoas.
Cativar é algo extremamente necessário, afinal, somos seres coletivos que vivem em bandos para se reproduzir, proteger, guerrear, equilibrar... Somos filhos de uma sociedade máter que nasce da necessidade de luta, e, para isso, tornar- se necessário a conquista afetiva de aliados, mas, não podemos confundir isto com compra ou troca. Afeto não vale um objeto, por mais que esse objeto seja em gratidão à tudo que recebemos.
Afeto é o ato de usar os cinco sentidos do corpo em benefício do outro. Afeto é a entrega de si. Dar presente é bom, é legal, é uma representação legítima de bem querer, porém, nenhum bem material superará uma representação de carinho feita por nossas próprias mãos. Seja ela qual for! Cultive o bem querer cotidiano. Seja gentil. Seja verdadeiro. Diga obrigado sempre que puder. Esteja atento aos detalhes. E, sobretudo, mantenha-se sempre numa posição de companheirismo àqueles que te cercam.
Presenteie em conta-gotas, todo dia uma gentileza à mais, dedique-se à fazer o bem. Isso é presente! Presente do termo usado para definir tempo; o hoje, o agora. Não espere que as grandes datas te convertam ao egoísmo consumista, seja o presente de alguém e faça dos bens materiais um segundo plano desfocado no fundo embaçado da comemoração. De presente, entregue-se.
Dê pele no lugar de plásticos, couros, sintéticos, plumas ou paêtes; a sua pele. Em forma de abraço, sorriso, companhia... O cotidiano sempre vai ser o melhor presente que qualquer pessoa pode receber.
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