Você ta grávida. Você ta esperando um outro serzinho na sua barriga. Carregando uns quilos a mais aqui e ali, incomodada, ansiosa, de humor oscilando a todo momento. Chega a hora de escolher nome: procura nos sites, nos livros e ouve umas dicas aqui e ali.
Chegou a hora de escolher o enxoval: vai nos sites, nos livros, nas revistas. Escolhe cor, escolhe o ambiente para deixar o bebê calmo, escolhe o parto, escolhe como vai educar a criança. Para tudo e mentaliza. Você fez, MESMO, essas escolhas? Ou fizeram por você, tudo organizadinho e mastigadinho pra você escolher a que mais se encaixa? Vai, força essa mente ai. Escolheram a marca por você. O seu trabalho vai ser só escolher a cor.
Escolheram o nome pra você, só precisas ver qual o melhor combina com a cara do moleque. Escolheram o que você vai dar pra ele comer, o que vai usar pra desentupir o nariz. Inclusive, vão escolher qual a melhor forma dele arrotar e o jeito de dormir. A cagação de regra vai desde o nosso nascimento até na escolha do nosso sapatinho de cristal. Porque o melhor sapato de cristal, obviamente, é da marca que as princesas de Carrossel estão usando. Hoje a gente tem um manual pra tudo. Manual pra usar o twiter: lá só pode rir, não pode falar de política. Lá é pra você ter o seu mau humor em paz.
O manual do facebook é um pouco mais variado: você pode falar o que quiser, como quiser, dizer que é sua opinião e ponto final. O instagram é uma rede social pra você postar foto. Só! Acabou. Boa sorte.
Mas quem impôs isso? Quem decidiu por mim, que o instagram não pode ter texto? Quem definiu que a blogueira, que usa tudo de algodão puro, com tintas vindas de uma cabaça de ouro, que só come orgânico e usa sapatos feitos a mão, com artesãs selecionadas e não escravas da moda, é melhor pra mim? É melhor pro meu bolso? Até pra eu ser ecologicamente correta, preciso seguir tendências. A gente tem uma seletividade, que juramos de pés juntos, que fomos nós que fizemos.
Não vemos nada a nossa frente, porque a coisa toda é isso, mesmo. Essa é a sacada. Da música que a gente ouve, ao livro que escolhemos ler. Nós somos moldados a escolher o que escolheram pra gente. Irônico, né?! Seja na estrutura familiar, que hoje, em toda a biblioteca, você encontra um manual de como ser feliz com o seu companheiro. Tem manual de como ser uma boa mãe. Tem manual de ser um bom patrão. Tem manual de como passar em concurso público. Tem manual até pra gente fazer um sexo gostoso. Hoje a gente escolhe qual manual seguir.
Mas também existem os textos e discursos que nos dizem, a todo momento, que TEMOS que ser livres. Temos que fazer nossas escolhas. Temos que nos decidir sobre o que é melhor pra nós, pro universo, pra vizinha e pro útero (de quebra). Ai, bate aquela ânsia, porque eu sei até onde somos livres. Eu não sei onde começa e onde termina a nossa liberdade de escolha, de gostos. E “isso é muito black mirror”. Eu to meio cansada de ver o que está sempre ai, só que com endereço de site diferente.
Queria TANTO ter mais autenticidade e acolhimento na moda, na alimentação, nas roupas pra minha filha e em outros ramos que vemos tão focados em segregar as pessoas. Procuro fazer diferente, até nesse texto aqui, que parece um outro manual de como não usar manuais. Eu não sei vocês, mas eu toparia fugir, pra viver que nem no filme Capitão Fantástico (ah, me deixa!).
Um mecanismo de bater de frente com o que querem que façamos. Uma fuga. Um jeito de fazer seu próprio manual. Um jeito de viver e consumir o que quiser. Sonho? Eu espero que sim. E daqueles que se realizam. Num mundo onde a gente tem que ler muito e se policiar pra não entrar na tribo errada até pra ser feminista, pede cautela. Cautela pra falar, pra responder, pra escolher e pra viver de maneira única e espetacular.
Bom, agora deixa eu ir, porque tenho que usar minha água micelar pra limpar o rosto, que a blogueira top de linha indicou, fazendo uma resenha maravilhosa nos stories do instagram. Sabe como é, né?! Top!
Por Naiane Feitoza
0 comentários:
Postar um comentário