Thursday, May 1 2025

In Cotidiano

Pare. Pense. Ouça e se cale.


Quantos gritos você fingiu que não ouviu? Quantas vezes você deixou de olhar o outro como um ser que pede socorro, para perpetuar que ele é um “dramático”? Eu me pego lendo reclamações de pessoas que se intitulam muito inteligentes. Um pequeno grupo seleto de gênios, únicos na humanidade, com poderes curativos para seus próprios problemas, criticando, caluniando e diminuindo pessoas que não conseguem “consertar” seus problemas internos. 

Eu mal consigo entender como é ser um ser sublime assim. Ô. Não lembro quando foi que o mundo parou de escutar para somente falar, falar e falar. E não é falar para ser ouvido. É falar para criticar, duramente, a realidade do outro. Ofender livremente aquele que não consegue se erguer. Diminuir gratuitamente aquele que está dando um grito de socorro mudo. Isso mesmo: M U D O.

Não sei como foi que viemos parar nos dias em que o drama vivido pelo OUTRO virou um motivo pra se satisfazer reclamando que o outro sofre de “frescurite”. Satisfação, sim. Lemos textos vazios de compreensão e somente de ataque. São os gênios dos problemas pessoais. “Ah, eu não tenho depressão, com esse monte de problemas que tenho. O João ta querendo aparecer”. É, colega, porque medir o seu sofrimento com o do outro deve ser o melhor caminho, mesmo, pra diagnosticar os desprazeres. Um ato de ignorância é esse que a pessoa mede o sofrimento do outro, com o próprio, e solta a pérola “mas você ta triste por isso? Olha, eu não tenho uma perna e sou feliz”. Parabéns! Você acaba de entrar no clube dos que acham que os fardos que Deus coloca em cada um é medido pelo tamanho das costas.

Eu, com as costas miúdas, não posso reclamar, porque tudo em mim é pequeno. Mas a Teresa pode, pois tem umas costas enoooormes e é mãe solteira. Que mundo injusto para Teresa. Que dó! A necessidade de desqualificar o que o outro sente, está no top list das postagens em redes sociais, nos grupos de whatsapp e na boca “de quem não presta”, como diz a minha avó. A porrada que é certeira nos outros sangra longe dessa gente perfeita, em que o maior problema é encontrar uma forma de colocar indireta pro problema do outro. Outro! O-u-t-r-o.

Tudo leva a uma pessoa que não é aquele, mas o problema alheio lhe satisfaz. Mas e quando for você a passar por isso? E quando a sua bola baixar, suas bochechas murcharem e seu peito não estufar como antes? Se você for a pessoa que está sendo deixada de lado e levando “esporro”, com textão ou com tapinhas nas costas de “supere isso, seu fresco”? A gente só sabe da dor do outro quando a empatia nos alcança. A gente só se solidariza quando nosso coração enfraquece e esquece-se do escudo da superioridade. 

A gente só abraça a dor do outro quando nos colocamos no lugar dele. Não há receita pra ser solidário, ser silencioso e apenas escutar. Escutar o problema. Escutar a dor. Escutar o grito mudo. Se não quer ouvir por compaixão, ouça por egoísmo, para usar, um dia, nos seus problemas pessoas. Porque eles virão. Pode sentar ai, e esperar. O silêncio é valioso nas horas que o outro precisa de nós. Silencie mais. Ouça mais.

Ilustração: Helena Pérez García

Por Naiane Feitoza

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