In Cotidiano Feminismo

Todo mundo pode ser vadia




A primeira vez que ouvi a música “Todo dia”, do Pabllo Vittar, foi durante o carnaval desse ano,
quando ele cantou em cima de um trio com a Daniela Mercury. Eu não sou muito fã da Daniela Mercury, então já estava pra mudar de canal quando ouvi o refrão: “eu não espero o carnaval chegar pra ser vadia. Sou todo dia! Sou todo dia!”. Me chamou a atenção, não pelo fato de ser uma drag queen (belíssima aliás) cantando em cima de um trio com a Daniela Mercury, mas pelo fato de quebrar um tabu sobre um conceito comportamental do qual eu sempre discordei – a taxação de mulheres como vadias.

Na verdade, esse conceito de o que é comportamento padrão para uma mulher e o que é comportamento padrão para um homem nunca foi assimilado pela minha mente. A gente, que é mulher, cresce ouvindo coisas do tipo: não brinque correndo, você é uma menina; você não pode arrotar, você é uma mocinha; você não pode falar palavrão porque você é uma mocinha; você não pode sair com vários homens porque você é menina se não vai ser taxada de vadia.

Isso sempre me pareceu uma falácia. Qual é a diferença entre o comportamento de uma mulher e de um homem? Não tem diferença! Não deve ter! E pra mim não tem. Então vamos abrir mente e expandir o conceito semântico da palavra vadia.

O adjetivo vadia não deve ser utilizado com sentido pejorativo. Muito pelo contrário! Vadia é aquela pessoa segura de si, autoconfiante, que conhece seus medos, seus defeitos, suas qualidades e as explora de forma liberal, sem preconceito e sem culpa. A vadia sabe o que quer porque não tenta se esconder atrás de estereótipos enfiados goela abaixo. A vadia conhece muito bem seus princípios e não se deixa levar por ondas extemporâneas de modismos comportamentais.

A vadia age de acordo com sua própria consciência, sem se prender aos fuxicos, ao que outras pessoas podem pensar e sem qualquer preocupação com sua imagem perante a sociedade.
Porque a imagem que interessa mesmo é a que a vadia tem de si mesma. Afinal, o que é mais importante do que a gente se olhar no espelho e enxergar alguém a quem se admira?

Vadia é gente que não tem vergonha. E não ter vergonha é tão libertador! É bom quando a gente pode ir onde a gente quer ir, vestindo o que a gente quiser vestir, e falando o que a gente achar que tem que falar. A vergonha tolhe primeiro as ações, depois as palavras, e aos pouquinhos vai tolhendo a vida. A gente tem é que ser sem vergonha mesmo! E as vadias não têm medo de não ter vergonha!

Aliás, a palavra vadia devia ser mesmo um termo unissex, sem gênero, que nem alface ou jacaré. Um adjetivo assim, que expressa confiança, liberdade, ausência de preconceito, autonomia de vontade, não devia estar vinculado a um único gênero.

Porque se ser vadia é ser livre pra escolher o que quer, como quer e onde quer, eu também sou vadia e desejo que todo mundo seja vadia também.

Tem 33 anos, é casada, bacharel em Direito, servidora pública, ama cachorrinhos e gatinhos e adora tudo e todos que carreguem consigo o brilho de uma vibe positiva

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